Educação Matemática
1957-1974

Arauto e precursor

Malba Tahan colocava-se frontalmente em oposição ao tradicional e cáustico “algebrismo” dos professores de Matemática de sua época. Ele denominava “algebrista” o professor de Matemática que procurava dificultar o ensino da matéria, com problemas fora da realidade, complicados e muito trabalhosos. Em seu livro Didática da Matemática, Malba Tahan define o professor algebrista como aquele que impõe aos alunos problemas enfadonhos, irreais, sem finalidade prática ou teórica, com a única preocupação de tornar a matemática muito difícil. Era a “pedagogia” da tortura com a qual acreditavam que iriam incentivar os alunos a estudar. Dizia ele: – “Isso é obra de um inimigo pernicioso, de um inimigo que é para a Matemática como a broca é para o café, a lagarta para o algodão e a saúva para todo o Brasil”. Por essa razão, Malba Tahan publicou livros de divulgação científica, que pudessem tornar a matemática acessível a todos, tais como: Matemática Divertida e Pitoresca, Matemática Divertida e Diferente, Matemática Divertida e Curiosa, Matemática Divertida e Delirante, O Homem que Calculava, entre outros. Malba Tahan revolucionou a maneira como os professores ensinavam, criando formas inteiramente novas e cativantes de transmitir a disciplina. O “Método dos jograis”, criado por ele, é um bom exemplo de suas invenções didáticas. Conforme relata o professor Sergio Lorenzato, “há mais de 50 anos, no livro Didática da Matemática, o professor Mello e Souza já recomendava o jogo como situação de aprendizagem, a montagem do Laboratório de Ensino da Matemática, fornecendo mais de 70 sugestões de materiais didáticos, a utilização de paradoxos, falácias e recreações em sala de aula, com apresentação de problemas interessantes, a narração de histórias e a integração da língua materna com a linguagem matemática. Malba Tahan foi aurato e precursor de uma nova forma de ensinar matemática, cujas concepções passaram a integrar, muitos anos depois, os Parâmetros Curriculares Nacionais definidos pelo Ministério da Educação.”

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Etnomatemática

Malba Tahan foi um dos pioneiros da etnomatemática no Brasil. Essa área do conhecimento surgiu no âmbito da antropologia e veio como uma resposta à necessidade de se entender a matemática em diferentes contextos, povos e culturas. Diversas formas de calcular e de aplicar a matemática no dia a dia têm sido desconsideradas, por serem restritas a tradições orais e por não se enquadrarem em uma matemática “oficial” e homogênea. Grupos sociais diferenciados — inclusive, por exemplo, crianças de uma determinada cultura —, praticam a matemática de forma diferenciada, pensam e agem matematicamente de maneira própria e singular. Malba Tahan antecipou-se ao  conhecimento do próprio conceito da etnomatemática. A exemplo disso, em seu livro Meu Anel de Sete Pedras: cintilações curiosas da Matemática, Malba Tahan apresenta uma série “etnomatemáticas” encontradas em versos de tradição popular, como adivinhas, literatura de cordel, repentes, desafios, contagens cantadas e rimadas, buscando também expandir o universo matemático à literatura e a oralidade brasileiras. No livro Folclore da Matemática (depois chamado de Os Números Governam o Mundo), Malba Tahan procurou compreender os significados dados aos números, desde o zero até o infinito, nas diferentes culturas e épocas. Além dos contos árabes de teor matemático, há pelo menos mais dois livros que seriam, hoje, considerados como de etnomatemática: Numerologia, em que ele analisa a ciência dos arcanos de predição do destino, e O Jogo do Bicho à luz da Matemática, seu último livro escrito em vida, publicado postumamente no ano sua morte, em 1974.

Altruísmo e outras obras

Destacado pela originalidade e beleza de sua linguagem literária e pela imensa contribuição prestada à Educação Matemática, Malba Tahan era consciente do papel que poderia exercer para ajudar a sociedade. Altruísta, resolveu criar, em 1952, a revista Damião com o objetivo de desmistificar a doença da hanseníase, minimizando preconceitos e mobilizando a opinião pública para um tratamento mais humano e eficaz dos doentes, em especial dos residentes da Colônia de Curupaiti, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Sobre o mesmo assunto, também publicou, em parceria com Eva Antakieh, o romance Ainda não, Doutor. Enquanto editava a revista Damião (1952-1960), passou a visitar os leprosários do Brasil, onde conversava com pacientes, contava histórias às crianças internas e debatia com os médicos. Graças a esse e a outros movimentos, conseguiu que o isolamento dos doentes fosse extinto (Decreto  968, 07/05/1962), e a palavra lepra, carregada de estigmas, abolida, sendo substituída pelo termo “hanseníase”.  Com a publicação da primeira edição dos livros “Didática da Matemática” e “A arte de ler e contar histórias”, ambos em 1957, Malba Tahan passou a produziu títulos de didática geral, como o livro “O mundo precisa de ti, professor”, em 1966, e de temas diferenciados como os livros “Romance do filho pródigo”, em 1967, “Acordaram-me de madrugada”, em 1973, e “Belezas e maravilhas do céu”, em 1974. Sem nunca deixar de ensinar matemática, o professor carioca criou ainda a revista “Lilaváti”, em 1957, e na última década sua vida teve forças para elaborar as colunas “Vida e Escola”, no jornal Folha de São Paulo, e “Matemática Recreativa”, no jornal “Última Hora”.

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Leia mais sobre o prof. Julio Cesar de Mello e Souza:

A popularização da matemática – 1937-1957

Morte e memória – 1974

Leia também:

Biografia de Malba Tahan